sexta-feira, 16 de março de 2012

Jorge e o cachorro do político

Que Jorge era detetive isso todo mundo sabia, o que ninguém sabia era o que Jorge estava prestes a descobrir. Algo tão impressionante e misterioso, que nem Jorge ao descobrir se deu conta do que era. Jorge era detetive particular, e não detetive de filme noir. Em filme noir, detetive leva uma vida em preto e branco, cheia de charme. Detetive particular leva uma vida meio amarelada e cheia de dívidas. Os mais chegados criticavam o trabalho de Jorge, questionavam o porquê de Jorge não ter cartões de visita, ou até mesmo uma placa em seu escritório. Jorge não se importava, não gostava de se gabar, preferia passar desapercebido. Jorge era detetive.
Certa vez Jorge encontrou um cachorrinho de madame, com coleira de brilhantes e tudo mais. Na coleira tinha uma plaquinha com um telefone, Jorge não era desonesto, iria ligar para o dono e quem sabe até ganhava uma recompensa. Para a surpresa de Jorge o cachorrinho pertencia a um político importantíssimo no cenário nacional, na verdade, não pertencia ao político propriamente dito, mas, era um presente seu para Amália, sua amante. Sem querer muita conversa o homem foi logo agradecendo a Jorge, e assinando uma recompensa de cem mil reais, com a condição de que Jorge não contasse o ocorrido a ninguém. Claro que Jorge não contaria a ninguém, a discrição é fundamental no trabalho de um detetive, e Jorge era detetive. O homem saiu com pressa do escritório, e logo que o homem saiu Jorge pulou de alegria, não só pelo cheque cheio de zeros que havia recebido, mas também por resolver seu primeiro caso, mesmo sem ter sido contratado para isso. Jorge tirou o resto do dia para descansar e curtir sua glória.
Na manhã seguinte Jorge acordou cedo, fez a barba, pegou seu melhor terno (o único), seu melhor sapato (o único), e correu para o banco descontar o cheque que havia recebido. Parou na padaria para tomar o seu café quando viu no noticiário que o político havia sido preso naquela manhã, acusado de uma série de desfalques nos cofres públicos. Jorge correu para o banco, e quase sem surpresa recebeu a notícia de que o cheque não tinha fundos. Mas Jorge era detetive não se deixaria abater, foi para o bar e tomou um porre, fiado é claro. Jorge dormiu ali mesmo na mesa do bar, bêbado, com seu melhor terno (o único), seu melhor sapato (o único) e com a sensação do dever cumprido, afinal Jorge era detetive.